Sabe quando alguém diz que não dá para transpor o que tem escrito em um livro para a tela do cinema, que é preciso adaptar, afinal são mídias diferentes? Pois bem, dá para ver o porquê disso claramente nesse filme.
A Girl transporta quase que quadro a quadro do mangá para as telonas,uma cópia bem fiel ao material original, mesmo assim, a trama não funciona.
Seguimos o “relacionamento” de Koume e Isobe, que são parceiros sexuais, mas não se gostam e mal interagem no dia a dia. Entretanto, esses minutos que eles gastam juntos, fazendo sexo, serve para atenuar suas feridas e aos poucos irem se aproximando. O problema é que no filme tudo é muito abrupto.
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As cenas de sexo estão presentes |
As cenas são jogadas na nossa cara, sem muita paciência para transições ou emoções, simplesmente aconteceu e já mudou para a próxima cena. Estamos falando de uma obra original do Asano Inio, que precisa de nuances para mostrar o que quer contar e precisa de tempo para ser digerido.Coisa que no filme não acontece. Isobe perdeu muito da carga da dramática, ele é um garoto deprimido com a vida porque tudo deu errado, os pais o negligenciam, o irmão morreu e de certa forma isso o assombra, ele é só um escape para a Koume, mas tudo isso é tão diluído que você não consegue ver ele mais do que um adolescente blasé.
O mesmo acontece com a Koume, uma parte pelo roteiro e outra porque a atuação da atriz é bem pouco convincente, o espectador nunca consegue realmente acreditar que ela gosta do Misaki ou do Isobe. A atriz não é muito expressiva e não consegue acompanhar o ator do Isobe no mesmo nível de atuação.
Como é uma história sobre sexo, obviamente tem muitas cenas de sexo, e apesar de não serem muito explicitas (apesar de ter alguns nus), elas são bem desajeitadas e vergonhosas. Embora mesmo no mangá, o sexo não tenha exatamente um cunho erótico, mas algo mais como escape e autoconhecimento, o filme não consegue transmitir essas sensações.
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Quadro a quadro com o mangá, mas sem a mesma profundidade |
Os enquadramentos não ajudam muito, mesmo tendo muitas cenas do mar, o filme não consegue passar a sensação de vastidão e solidão dos personagens, nem as cenas no quarto do Isobe conseguem transmitir um ar mais introspectivo e intimista.
Mas nem tudo é ruim, da cena onde eles fazem sexo pela última vez até o final do festival escolar, o filme consegue manter um nível e coesão interessantes, fazendo a trama realmente fluir. Pena que logo depois, volte a ser um monte de recortes do mangá e as cenas parecem que não se conversam.
Mídia: filme
Direção: Ueda Atsushi
Lançamentos: 2021
Gêneros: drama, romance, slice of life